Meus hábitos eram sempre os mesmo, depois de
passar a tarde fazendo a tarefa de casa, desenhando ou cochilando, eu esperava
minha mãe chegar do trabalho, e o momento que meu pai ia buscar ela, era o
único que eu tinha para ficar só. Eu geralmente ouvia música, uma das coisas
que eu mais gosto de fazer, mas como estava sem fones, eu apenas fazia isso
sozinha, não gostava de incomodar meus pais. Eu também refletia, colocava a
cabeça no lugar, entrava no meu mundo e reorganizava tudo.
Hoje
pode ter sido um pouco diferente... Eu comecei a pensar o quão estranho isso
pode ser, mas eu não sabia mais o gosto da felicidade, sim, dramático, porém é
a verdade. E também percebi a frequência desses mesmos pensamentos
melancólicos... Talvez hoje na escola, eu posso ter deixado escapar algumas
lágrimas durante a aula, mas logo me recompus, eu não posso chorar, na aula
não. Meio que esse sentimento destrói tudo, mas é por dentro, e já está se
acumulando há bastante tempo. Tem horas que transborda e eu não aguento.
Muito
idiota de minha parte ficar escrevendo textos dramáticos, mas fazer o quê? É o
que penso. Pode parecer forçado, mas é tudo que está guardado aqui dentro faz
tempo que eu consigo esconder com ‘’estou bem’’ e sorrisos falsos, é... A
maioria dos meus sorrisos são falsos, que patético. Se eu não me sinto bem,
para que dizer que estou bem? Para que sorrir? Bem, uma coisa mais idiota e
patética ainda, eu simplesmente não quero preocupar os que estão a minha volta.
Algo aqui dentro diz que a minha felicidade é menos importante que a dos
outros, e como um sorriso deixa os outros felizes, por que não sorrir mesmo que
esse sorriso não mude o meu estado, mas mude o de alguém?
Bem,
esses pensamentos tem todos uma história por trás, eu acho que já na hora de
contar tudo o que está guardado, mesmo que não seja verbalmente, mas de
qualquer forma, sou melhor nas palavras por meio de textos.
Bem, eu
tenho vários problemas e é isso que faz a minha tristeza ser tão profunda.
Começando... Acho que a primeira coisa que deveria dizer era sobre a família,
não é mesmo? O que mais me deixa desanimada em questões familiares, é a minha
relação com meu pai. Todo mundo sabe que os pais orientam. Só que
diferentemente, ele critica e sempre envolve algum tipo de ofensa nesses puxões
de pé. Um dia, eu esqueci a minha mochila em cima do sofá, então ele começou a
gritar que nem um doido, então quando fui pegar a mochila, ele me ameaçou,
disse que se eu bobeasse novamente ele pegava um cinto e batia na minha cara.
Outra situação, é que se eu derramo qualquer coisa, seja leite, café,
refrigerante, ele nem me deixa fazer nada, começa a gritar, me chama de porca e
outras coisas, e se caso eu dizer que já vou limpar ele ainda me chama de
malcriada e que só sei retrucar. E isso acontece com todos os meus erros que
ele presencia, eu acabei me achando a pior e mais inútil pessoa do mundo. Quando
ele faz isso, me dá vontade de morrer, ainda mais quando ele me critica por eu
ser tímida, ele fala que é frescura, que isso não existe e eu fico pensando, se
eu morresse, o mundo seria melhor? A vida dos meus pais seria melhor e eles
poderiam ter outro filho que fosse muito melhor que eu? Ninguém sentiria minha
falta? Bem, continuando com família, minhas primas e eu sempre tivemos uma boa
relação e tal, mas acaba que entre a família de uma das minhas primas e a minha
família tem certa rivalidade, o que causa problemas na nossa amizade, e ainda
tem a minhas outras primas, que como mora longe, dificulta o nosso contado. Mas
acabou que a rivalidade passou a não ser a única coisa que está destruindo esse
laço. Uma das minhas primas, Ana Luísa, está meio que problematizando as
coisas, ela se isola, se exclui, e depois vem mandar um texto gigante por mensagem
dizendo que a excluímos e que ela não cabe mais no nosso papo... Eu fiquei bem
decepcionada com isso, poias quando a gente se encontra, ela nem fala mais
comigo.
Acho que
agora chegou um dos problemas principais: a minha timidez. Eu tento ao máximo
explicar isso sem que seja um completo drama desnecessário que na verdade
ninguém sofreria por causa disso, mas acaba que dá esta impressão. Quando era
pequena, eu era bem agitada, espontânea e pra frente, só que foi passando o
tempo e essa realidade mudou, fiquei mais quieta, tímida, e acabei ficando
insegura, não tenho confiança em mim mesma. Como eu estudei por muito tempo na
mesma escola, eu já conhecia boa parte das pessoas e essa mudança de
comportamento não me afetou de uma forma muito brusca. Mas no quarto ano tudo
começou a mudar e foi que senti diferencial na minha vida.
A minha
melhor amiga era a Maria Eduarda, e a gente continuou amigas, mas acabou que,
eu já tinha percebido um pouco de distância entre nós. Era mais ou menos perto
das férias de meio do ano, e num dia bem aleatório, ela anunciou que a Evelyn era
a melhor amiga dela. Eu fui praticamente trocada, mas eu não me importei muito
com isso, afinal eu não era de criar caso por coisas tão simples. Mas depois
que isso aconteceu eu percebi que a minha única amiga próxima era a Maria, mas
depois de me trocar sem mais nem menos ela também diminuiu a frequência das
nossas conversas, o que me chateou. Eu tive várias tentativas falhas de me
reaproximar dela, só que ela não ajudou muito. A maior parte do tempo ela
estava colada com A Evelyn, e se eu ousasse tentar conversar com elas, elas me
faziam de enfeite, ficavam conversando enquanto eu ficava vegetando e criando
coragem para entrar no assunto, o que era em vão já que não tinha uma brecha
para dialogar com elas, algumas vezes elas até se afastavam de mim discretamente,
e teve uma vez a própria Maria, minha amiga de anos, pediu para eu sair de
perto delas. Acho que foi a partir destes momentos que eu comecei a sofrer.
Teve uma vez que, por mensagem de texto, eu me abri para ela dizendo que esses
acontecimentos estavam me ferindo, pois ela começou a me tratar como última
opção, ela passou a falar comigo apenas quando não sobrava nenhuma menina que
ela conhecesse, e isso em machucou MUITO. Eu falei que ou ela tentava continuar
minha amiga de verdade ou parava de me tratar como um resto que só é
aproveitado quanto não tem mais nada. Ela apenas disse que era ciúmes. No dia
seguinte, na escola, ela disse que eu tinha que parar de drama, e na minha cara
disse que eu era uma ‘’ carente de amigos’’. Aquilo me chateou tanto que eu
resolvi colocar um ponto final em toda essa história, parei de vez de falar com
ela.
Esse ano
eu continuei chateada, pois o que ela fez comigo foi muito fatal, ela pegou no
meu ponto fraco sem pensar duas vezes, e acabou assim. Nos primeiros dias eu
até comecei a falar com ela de novo, só que, ela disse para uma menina que eu
fiz birra para ser amiga dela, então eu fiquei quase dois meses sem falar com
ela. Eu pensei que se eu ignorasse o que ela fez comigo e seguisse a minha vida
normalmente eu conseguiria tirar esse peso todo das minhas costas, mas não foi
como eu pensei. Ela parece que ‘’rouba’’ toda a afinidade que eu consigo com
qualquer pessoa, a amizade que eu consigo com uma pessoa e uma semana ela
consegue em apenas algumas horas e a pessoa acaba se esquecendo de mim. É claro
que isso podia acontecer né, ela é bem mais legal e divertida que eu, mas não
dava para fazer seus próprios amigos e me deixar conseguir dizer um ‘’oi’’ para
alguém? É tão difícil assim? Isso começou a me incomodar muito, pois qualquer
pessoa que eu tentava falar ela conseguia falar, fazia amizade e ainda faz a
pessoa esquecer que eu existo de uma forma que parece bem fácil. Acabei sendo
obrigada a voltar a falar com ela, porque eu já estava me sentindo muito tristonha
e sozinha, mas ela não mudou o comportamento dela, continuou tirando meus
colegas. Ela pode sim conversar e ser amiga de qualquer pessoa, mas fazer a
pessoa nem dar importância para outra? Eu continuei triste e sozinha. O jeito
que ela consegue fazer amizades me desanima ao extremo, os meus vestígios de
confiança saem pelo ralo e a minha autoestima vai pra estaca zero, e o pior,
nada que eu faça melhora essa situação, eu dou o máximo, mas eu nunca consigo
alcançar os meus objetivos e alguém me supera Eu me sinto incapaz e
completamente fracassada na vida, então o único jeito de ficar um pouco feliz é
me desligando do mundo, lendo livros e tentando me distrair, mas na realidade
eu nunca me sinto realmente feliz.
Resumindo:
Eu fico triste por ter meus problemas familiares, que já me deixam bem
desanimada, mas tenho problemas na escola, e eu não consigo soluciona-los, isso
me faz cair. Todos os dias eu choro e sinto que se eu sumisse seria melhor para
a sociedade e que nem iria fazer falta. Eu fico medo de tocar no assunto com
alguém, pois a pessoa pode rir da minha cara, espalhar fofoca, falar que é
drama ou até mesmo usar isso contra mim. Sou uma menina que não se encaixa nos
padrões da idade, é tímida e não consegue fazer amigos e acaba sendo sempre pisada
por alguém. Parece que as pessoas esquecem a minha existência e sempre preferem
andar com os animados e divertidos e isso me destrói demais. Eu acabo me
importando mais com os outros do que comigo mesma, finjo felicidade para não
preocupar e incomodar os outros e dou o que não tenho para ajudar os outros e
sempre dá na mesma, eu fico sozinha.
Eu estou
escrevendo isso e não posso negar que deixei escapar uma boa quantidade
lágrimas, e eu estou elas caírem agora, mas isso é o que menos importa. Eu
realmente me sinto e é como se não tivesse uma cura, pode parecer muito
dramático, mas eu falo nada mais que a verdade. O que eu escondi das pessoas
que queriam me ajudar está tudo aqui escrito da forma mais sincera o possível,
eu não sei quem pode estar lendo agora esta carta, mas se eu te deixei ler é
porque confio muito na sua pessoa que fui capaz compartilhar meus sentimentos
contigo, se sinta especial por isso, mesmo não sendo eu falando com a minha voz
e encarando nos olhos. Se você me entendeu, eu só tenho o que agradecer.